O Homem, a Galinha e o Troféu


Quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha? Essa pergunta tão popular está diretamente ligada à origem dos seres, e nem mesmo o mais renomado cientista do mundo arriscaria respondê-la. A resposta certa valeria ao seu autor, no mínimo, um belo troféu.
E por falar em troféu, teria ele sido criado pelo vencedor, ou já existiria antes dele? Assim como no primeiro dilema, temos apenas duas opções de resposta, portanto, apenas uma tentativa de acerto. Precisamos refletir muito bem.

Desde o surgimento da humanidade, ou até o que se conseguiu saber dele, o homem desenvolveu o desejo de dominar e vencer seus semelhantes. Essa característica pré-histórica não só foi cultivada até os dias de hoje, como teve uma “evolução” bastante curiosa. Parte dos amantes da disputa desenvolveu uma outra ramificação dela: o importante não é ganhar, e sim ver os outros perder. Seus opositores favoritos são sempre os que eles julgam poder, de alguma forma, por em risco seus planos de vida. Algumas vezes nem precisam de motivo. Apreciam a disputa, pela disputa.
Escolhido o adversário, comumente a recíproca é automática: “Se ele quer jogar desse jeito, vamos, lá!”. Um passa a nutrir pelo outro, sentimentos de inveja e ódio. Enfim, buscando dar um nome atrativo, e que dissimule seu real sentido, denomina-se o ato de competitividade.
Isso dá a impressão de que são determinados, fortes, que sabem o que querem, quando na verdade estão sendo guiados apenas por seus impulsos mais rudimentares.

É fato que as pessoas devam buscar muitos objetivos na vida, e para isso precisam encontrar o seu espaço. Mas, não significa que precisem transformar a brutalidade em um esporte, onde o Fair Play, não faça o mínimo sentido, muito menos destruir seus semelhantes. De fato, para quem enxerga o mundo como uma imensa arena da antiga Roma, a regra só poderia ser: mate ou morra.
Enquanto a vida for encarada dessa forma, haverá gente praticando o anti-jogo para tentar alcançar seus objetivos, em detrimento de uma conduta honesta. Tudo em nome de um “mundo competitivo”. Carentes que estão, fazem aumentar cada vez mais sua necessidade de mostrar a todos, o que pensam ser superioridade, enquanto o que expõem, nada mais é que pura insegurança.

Sabemos que vez ou outra isso pode até conduzir alguém aos seus objetivos, mas, definitivamente, não fará de ninguém um vencedor. Esse tipo de disputa oferece apenas um troféu forjado em limitação e orgulho maciços, prêmio máximo aos que encenam essa olimpíada de fraquezas humanas. Tomando suplementos à base de vaidade, esses pseudo-atletas fazem inflar cada vez mais seus egos anabolizados. Sentindo-se verdadeiros campeões, executam um performático e triste mergulho nas densas e turvas águas da desilusão.

Quais seriam as finalidades desses fins? Sim, porque o fim, ao contrário do que eles pensam, não fala por si, nem é literalmente o final. Terá seus desmembramentos, muitos. E esses serão tão proveitosos aos seus conquistadores quanto justos foram os meios dos quais se fizeram valer. Essa lei de causa e efeito não há como ignorar.

Mas, felizmente há muitos atletas de verdade. Gente que, apesar das dificuldades, consegue driblar esse comportamento, saltar por sobre todos os problemas com dignidade e respeito às regras. Praticando um esporte de cooperação, conquistam o que almejam e, ao mesmo tempo, proporcionam um espetáculo bonito, harmonioso, equilibrado e, acima de tudo, justo. Então, podem desfrutar do seu prêmio como legítimos vitoriosos.

Troféu, em uma de suas definições mais prosaicas, é o conjunto dos despojos do inimigo derrotado. Sendo assim, um símbolo de força bruta, como a dos dinossauros que, há bilhões de anos, já exibiam orgulhosos e aos urros sua presa ao bando. Mas, para eles aquela era a única forma de sobrevivência.

Após uma boa reflexão, a resposta ao dilema inicial já se faz supérflua frente a mais importante das constatações: O verdadeiro vencedor não necessita de troféu.

Delphis Fonseca
DelphisFonseca.blogspot.com