A Relatividade da Justiça


“Cega”. Essa é a simbologia da justiça. Isso representa que ela não enxerga diferenças de nenhuma espécie dentre os que a procuram, sendo aplicada de forma igualitária a todos. É, também, soberana, como soberano era o rei Salomão que julgando a disputa pela maternidade de um bebê, após ouvir os relatos de duas mulheres, nos quais cada uma jurava ser a verdadeira mãe da criança, decidiu simular uma decisão absurda: “Cortem o menino ao meio, e dêem metade a cada uma delas!”. O restante da história você conhece. Sábio rei!

Hoje, no entanto, muitas das decisões tomadas nos tribunais geram polêmica entre a sociedade em todas as partes do mundo. Estratégias de defesa, artimanhas de promotoria, cada uma das partes buscando seus próprios interesses. É justo.
Não raro, vemos pessoas levantando bandeiras, fazendo discursos e clamando por justiça. Nas ruas, no trabalho, nas universidades, na sua casa, tenho certeza que você se depara constantemente com apelos insistentes pela presença dela. E quantas vezes você mesmo se questiona sobre a existência “dessa tal justiça”, inconformado com alguma situação que lhe parece insustentável? Mas, acredite, ela existe. Pode não ter a aparência que você imagina, mas está sempre presente. Aliás, as aparências, muitas vezes, enganam, como é sabido. Você está reclamando a presença de algo que sempre esteve ao seu lado.

Fique em silêncio e procure lembrar de quantas vezes você já se livrou de situações difíceis em sua vida, ao invés de se lamentar pelo fato de elas terem ocorrido em outros momentos. A pergunta correta não é “porque isso foi acontecer?”, mas, sim, “para que isso aconteceu?”. Todas as suas experiências devem ser entendidas como o que realmente são: um aprendizado valioso. Não se aprende através de outro processo senão pelas próprias experiências ou pelo conhecimento das experiências de outros. A vida é uma troca delas. Tudo o que elas dizem é algo importante sobre você.

Uma das melhores cabeças pensantes que o mundo já viu, o cientista alemão, radicado nos Estados Unidos, Albert Einstein, chegou a ser classificado por alguns de seus professores como deficiente mental. Ao ser indagado sobre qual seria o mecanismo de comportamento da vida, fez uma das mais simples e claras definições dos tempos modernos sobre o assunto: “A vida é como jogar uma bola na parede: Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul; Se for jogada uma bola verde, ela voltará verde; Se a bola for jogada fraca, ela voltará fraca; Se a bola for jogada com força, ela voltará com força. Por isso, nunca ‘jogue uma bola na vida’ de forma que você não esteja pronto a recebê-la. A vida não dá nem empresta; não se comove nem se apieda. Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós lhe oferecemos.”

Analise bem os argumentos que está usando para colocar a justiça no banco dos réus na tribuna da vida. Todos eles poderão ser considerados improcedentes e ainda se tornarão provas decisivas para a vitória da defesa. Isso é científico. É filosófico. Sim, ambos.
Foi a união de pensamentos filosóficos e conhecimentos científicos, ao longo do tempo, que mostraram que alguns dos “ex-mestres” de Einstein estavam bastante equivocados com relação, não só ao seu intelecto, como, principalmente, ao seu conhecimento dos mecanismos da vida. Não bastasse essa definição certeira - que também deixou claro quem era deficiente - em 1905, Einstein elaborou a Teoria da Relatividade: “Dois referenciais diferentes oferecem visões perfeitamente plausíveis, ainda que diferentes, de um mesmo efeito.”
Analisando a justiça sob esse prisma, onde estaria ela?
Em tudo que envolve a vida. No todo.
Esqueça o fiel dessa sua velha balança, acredite na vida e aja com justiça tratando o mundo como você gostaria de ser tratado por ele. Faça a sua parte e fuja do conceito simplório que diz: “O que me faz bem é justo. O que vai contra os meus propósitos é injusto”.
Para aqueles que se aproveitam das falhas que possam ocorrer no mecanismo dos tribunais, é bom que saibam que a verdadeira justiça não tem lado, mas está por todos os lados. Faz-se presente queiram ou não os homens, porque simplesmente está acima de tudo e de todos. Ela se mostra no momento exato. É muito mais que soberana, é a própria Soberania.

O homem verdadeiramente forte é o que busca a verdade com convicção. Não sofre pelas derrotas parciais, e nem se ofende ao ouvir impropérios a seu respeito. Seguindo firme por seu caminho, faz escolhas, muitas vezes difíceis, como fez a verdadeira mãe do bebê ao Rei. E, então, são por elas conduzidos ao sucesso no veredicto da vida.

Para que se possa ter justiça, como desejada, é preciso antes aplicá-la na mesma medida. Não é preciso ser um grande gênio e, sequer, usar qualquer dos cinco sentidos. Mas, um sexto chamado bom senso.


Delphis Fonseca
DelphisFonseca.blogspot.com